O ano de 2024 inicia com a expectativa de um esperado ciclo de afrouxamento monetário nos Estados Unidos — tendência também esperada no Brasil — juntamente com a possibilidade de novas reformas e eleições presidenciais nos Estados Unidos e municipais no Brasil.
Além disso, eventos econômicos e geopolíticos que caracterizaram 2023 têm desdobramentos projetados para persistir em 2024.
Segue uma lista de sete eventos que provavelmente terão impacto na economia global ao longo do ano:
Juros no Brasil e Estados Unidos
Em dezembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central cortou nesta a Selic pela quarta vez seguida em 0,5 ponto percentual, para a taxa de 11,75% ao ano.
Apesar do debate sobre uma possível aceleração da redução dos juros em 2024 ter se iniciado no mercado, o Copom manteve de maneira unânime o guidance para os encontros de janeiro e março, ao repetir que antevê novos cortes da Selic de 0,50 ponto porcentual na taxa básica nas próximas reuniões.
Caio Canez de Castro, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital, estima que a partir de janeiro poderemos ver algumas demonstrações com relação à aceleração nos cortes.
“Apesar de estar em queda, a taxa Selic ainda segue em patamares altos e isso ajuda a renda fixa a se manter um investimento atrativo. Além disso, a renda fixa possui um acréscimo que são os prêmios de risco e estes seguem em patamares altos. Isso segue atraindo recursos dos investidores”, explica.
O BofA projeta ao menos quatro reduções de 0,5 pp e uma de 0,25 pp, reforçando a estimativa de taxa a 9,5% ao final de 2024. Já o Goldman Sachs espera mais duas diminuições em janeiro e março, enquanto o Itaú também prevê uma Selic de 9,5% no final do próximo ano.
Em relação aos juros nos Estados Unidos, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) manteve a taxa dos Fed Funds em 5,25% a 5,50% ao ano.
“Em nosso cenário, o Comitê não deve elevar mais o juro, mantendo a taxa no atual patamar ao longo de 2024. Cortes devem ocorrer apenas no fim do primeiro semestre do ano que vem”, diz Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.
Eleições nos EUA
Cerca de 58 países realizarão eleições ao longo de 2024. No Brasil, será ano de eleições municipais. Enquanto nos Estados Unidos ocorrerá eleição presidencial.
Segundo analistas da Bloomberg, Donald Trump é considerado o candidato mais forte do Partido Republicano para desafiar o democrata e atual presidente Joe Biden, que buscará reeleição em novembro.
No entanto, recentemente, algumas decisões judiciais colocam em risco a candidatura de Trump. Em dezembro, a principal autoridade eleitoral do Maine desqualificou Trump da cédula eleitoral, tornando o segundo estado norte-americano a barrar a candidatura do republicano.
Antes de Maine, Trump também foi barrado pela Suprema Corte do Colorado em relação a ter seu nome na cédula eleitoral no estado.
Regulamentações e reformas no Brasil
Para 2024, a expectativa do mercado é de que as agendas de reforma continuem. Em dezembro, a agência de avaliação de risco S&P Global Ratings aumentou a nota de crédito do Brasil de BB- para BB.
No relatório, a S&P afirma que a decisão de elevar o rating agora foi motivada pela aprovação da reforma tributária. Segundo a agência, apesar de sua implementação gradual, a reforma representa uma revisão significativa no sistema tributário e, provavelmente, resultará em ganhos de produtividade a longo prazo.
Neste ano, vários pontos da reforma tributária ainda precisarão ser regulamentados, por meio de projetos de lei, como a alíquota dos futuros impostos; itens que serão incluídos na cesta básica, que contará com isenção dos futuros impostos; quais produtos e serviços poderão contar com as alíquotas reduzidas, quais produtos terão cobrança do imposto seletivo — apelidado de “imposto do pecado”.
El Ninõ
O ano de 2024 deve ser ainda mais quente do que o de 2023, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), em consequência das mudanças climáticas em curso somadas à ocorrência do fenômeno El Niño, de aquecimento das águas do Pacífico, que se estenderá até meados do ano.
No Brasil, além das ondas de calor e elevação das temperaturas, o El Niño pode provocar alteração no regime de chuvas, causando novos eventos de secas e estiagens intensas, sobretudo no Nordeste e no Norte, e chuvas acima do normal no Sul, a exemplo do que já ocorreu em 2023. Além disso, incêndios florestais no Cerrado e na Amazônia podem ocorrer com mais frequência.
Guerra na Ucrânia
O início do novo ano ocorre em meio a questões não resolvidas e instabilidades econômicas. A persistente guerra na Ucrânia, ao que tudo indica, continuará em 2024, de acordo com a Bloomberg. A postura da Rússia na Ucrânia permanece como uma ameaça constante à estabilidade na Europa.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, prometeu “destruir” o Exército russo durante o discurso de Ano Novo.
“No ano que vem, o inimigo vai sofrer os estragos por parte da nossa produção doméstica”, afirmou Zelensky.
Por sua vez, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que o seu país “nunca recuará” depois de ter “defendido firmemente” os seus interesses em 2023, no seu discurso de Ano Novo, sem mencionar a Ucrânia.
Guerra no Oriente Médio
Além do conflito na Ucrânia, outro que chamou atenção em 2023 e tende a continuar durante o ano de 2024 é a guerra de Israel contra o grupo Hamas. Segundo a Bloomberg, o ataque levou a uma grande escalada de violência na região, trazendo incerteza no mercado, em especial ao comércio de petróleo.
Recentemente, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant afirmou que o combate ao Hamas em Gaza deve levar “mais do que vários meses”.
Governo de Milei na Argentina
Em 2023, passando por grave crise econômica, a Argentina elegeu um novo presidente, Javier Milei, que prometeu adotar um pacote de ações para melhorar a condição econômica do país.
Para 2024, o presidente argentino, Javier Milei, prometeu convocar um plebiscito caso o pacote de medidas de ajuste fiscal, desregulamentação e diminuição do papel do Estado na economia assinadas por ele seja rejeitado no Congresso.
O Decreto de Necessidade e Urgência (DNU) tem 366 artigos, propõe um plano de estabilização de choque e visa a avançar ainda na privatização de empresas públicas.
Em entrevista ao jornal La Nación, Milei disse: “Se rechaçarem o DNU, chamarei uma consulta popular. Quero que o Congresso me explique por que se põe contra algo que faz bem às pessoas.”